sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Sem Gueri-Gueri - O Rebucetê Entrevista: B Negão

Por Rafael Flores


Foto: Rafael Flores
Um ano depois de entrevistar de surpresa o B Negão no Festival Suíça Bahiana, voltamos a nos encontrar. O evento responsável por isso foi o BOOM!!!, que uniu à música outras manifestações, como a vídeo-arte, o skate e o slackline. Foi a primeira apresentação de B Negão & Os Seletores de Frequência, banda que o acompanha desde o início dos anos dois mil, em Vitória da Conquista. A banda é composta ainda por Pedro Selector (trompete e voz), Fábio Kalunga (baixo), Robson Riva (bateria e voz) e Fabiano Moreno (guitarra e voz). O show foi de um peso incrível, nele os mais animados se balançavam enquanto os mais ligados se atentavam aos ritmos e referências, diluídas entre os riffs da guitarra, acompanhada dos marcantes metais e e as gírias empregadas pelo vocalista.

Depois de beber uma água e conversar com uma “feiticeira” que ocupou o camarim, ele se acomodou em uma cadeira semi-acolchoada e nos recebeu. Dentre os assuntos, comentamos sobre a repercussão e distribuição do novo álbum, o “Sintoniza Lá” e suas aventuras em terras britânicas para representar o Brasil. Por fim, ainda comentamos da importância de veículos alternativos de comunicação que estejam em diálogo com outras produções independentes, aberto para qualquer tipo de pergunta, mais uma vez, ele se mostrou um ótimo entrevistado.

O Rebucetê: Houve quase dez anos de hiato entre o primeiro álbum de B negão & Os Seletores de Frequência (Enxugando O Gelo - 2003) e o “Sintoniza Lá” - 2012. Por que tanto tempo?

B Negão: Cara, a distância de tempo foi excesso de trabalho, ao longo desse tempo a gente não deixou de fazer show. Entre 2003 e 2006 fizemos muitas apresentações fora do país, inclusive, com shows em grandes casas de Londres, Barcelona e em festivais pra mais de 70 mil pessoas, como o Roskilde Festival (Dinamarca). E foi apenas em 2006, três anos depois do lançamento do “Enxugando o Gelo” que ele veio pegar no Brasil, então ele foi crescendo, crescendo, cada vez mais gente sabendo da parada e daí rolou uma loucura, fomos fazendo shows e o conhecimento do nosso trabalho foi aumentando eternamente. Comento sempre que o normal de você lançar um disco, de acordo com minha experiencia com todas as bandas, inclusive com o Planet Hemp, é ele dar uma caidinha depois de dois anos, aí você tem que produzir coisa nova, caso contrário não dá pra vender show e tal. O nosso não, começou pequenininho e foi crescendo. E foi em 2010 que percebemos que ele tava mega grande, quando tocamos no primeiro SWU e batemos o recorde de público dos três dias de festival no palco alternativo, com toda a galera cantando. E foi nesse ponto, que os jornalistas começaram a prestar atenção, porque na nossa caminhada estávamos acostumados a ser só a gente, a internet e o público, um caminho meio que silencioso. Aí a grande imprensa chegava e “Caraca, não conhecia o trabalho de vocês”, aí a resposta era “Pois é, cara, tem que se informar”. Outro motivo da demora é a nossa preferência pela falta de patrão, como a gente mesmo faz nossas coisas E a gente não tendo ninguém pra mandar, meu irmão, acabo sendo o cara mais desorganizado do mundo, eu demorei pra caralho de fazer as letras, fazendo e jogando fora, a última eu fiz menos de 24h antes do prazo pro disco poder sair.

Foto: Rafael Flores
OR: E o que esses dez anos trouxeram de diferente para o “Sintoniza Lá”?

BN: A gente tá felizão com o resultado dele, fizemos a parada que sempre tava rolando do metal. O trompete é nossa guitarra solo e o baixo nossa guitarra-base. Teve uma mudança de formação na banda também o longo desse tempo, entrou o Fabio Moreno e o Robson Riva trazendo uma influencia das batidas africanas.

OR: O “Enxugando o Gelo” foi lançado pela revista Outracoisa, que se propunha a incluir a numeração nos produtos fonográficos, um tipo de controle que não é respeitado no Brasil. Como tá sendo a distribuição do novo trabalho?

BN: Então, no “Enxugando o Gelo”, a gente propôs essa parada de incluir a numeração dos discos, coisa que não era feita nas gravadoras brasileiras. Gravadora não é aquela coisa confiável cem por cento, né? Os caras falam que foram vendidos tantos discos seus e não tem como provar, com o disco numerado não, a gente acompanha o processo. Dessa vez a gente fechou a distribuição com a Coqueiro Verde, gravadora independente do Rio de Janeiro, que lançou o Autoramas e outras bandas do cenário. Então eles vão distribuir no Brasil inteiro, fechando com lojas como Fenac, Saraiva, Cultura, que atingem Norte e Sul do país. E foi bom, pois conseguimos com nosso projeto de musica livre fechar só a distribuição, daí podemos colocar nossa música na internet sem problemas.

OR: Sobre sua participação no encerramento dos jogos olímpicos de Londres, como foi a sensação de representar o Brasil?

BN: Foi psicodelia pura, doidera demais. Quando veio o convite eu achei que era um trote, mas achei tão engraçado que resolvi responder os e-mails. Continuei nãoa creditando até rolar a  primeira reunião e encontrar com a Daniela Thomas, diretora, que é uma figura que respeito pra caralho de outros trabalhos. Acabou que quando vi que a parada era real e definimos as músicas e tal, topei. Mas quando chegou em Londres eu fiquei um pouco receoso, vai que essa porra acabe sendo “mó preguiça”, sacou? Vai que eu chego aqui pra mostrar minha cara pro mundo inteiro, e a parada ser um mega “Criança Esperança” e eu vou ficar na merda total, sacou? Até comentei com a galera que tava comigo no dia do primeiro ensaio, que se tivesse feião o negócio iria fingir que estava tendo um treco pra ‘nego’ me substituir, tá ligado? Mas o ensaio foi bom pra caralho, tocamos no mesmo palco que o Queen e o The Who tocaram, parada de maluco. No ensaio tava toda galera que fez a cerimônia nos aplaudindo, foi clássico.

OR: Você chegou a pensar no tamanho da coisa toda? Tipo, de estar ali representando o segmento alternativo da nossa produção cultural, o qual nunca possui tanta mídia assim?

Foto: Ana Paula Marques
BN: Na real, não deu pra ficar pensando muito, que era uma parada pra quatro bilhões de pessoas, foi concentração total. Quando rolou o lance de ganharmos o VMB, foi o mesmo que rolou com as Olímpiadas, assim, onde nunca pensei que fosse ser representado num evento como esse, saca? Foi o mais emocionante de tudo, ver a moçada dizendo “o undergrond tá lá”, sacou? Bem representado e sem “gueri-gueri”, sem escrotidão. Eu voltei dando autógrafo do hotel em Londres até não sei onde. E foi espetacular conviver com aquela galera também, porque uma coisa que acontece sempre aqui no Brasil quando rola evento mundial é esse lance separatista entre estrelas internaconais, etc, com áreas específicas pros gringos. Mas lá fora, a maioria esmagadora desses eventos todo mundo fica junto. Então na mesma fila pra almoçar ‘tava eu, as Spice Girl, o cara do Monty Python, o Bryan May, numa interação total ali. Então é isso, sem gueri-gueri, sem afetação, sem segurança, um lugar tipo esse aqui, um grande exemplo pros produtores que fazem esse tipo de evento no Brasil. Apartheid não tem que rolar mais não.

OR: O Planet Hemp relançou agora seus dois primeiro álbuns em LP e parte para uma mini turnê pelo Brasi, se apresentando também na Bahia. Como é que tá rolando esse re-mergulho na história do grupo?

BN: É isso, muito bem, é um re-mergulho, melhor definição até agora desde que começou  a história toda (risos). Cara, fiquei até assim, meio que sem saber se eu ia ou se eu não ia. Todas as vezes que nego falava sobre isso, era eu que meio que botava a água no chopp. Ainda mais agora num momento super positivo com os Seletores, show pra caralho, disco acontecendo... Só desse trabalho já tem coisas que não consigo dar conta, entendeu? Tanto que você me mandou a entrevista e não consegui responder, porque são vários convites, desde jornais mega-grandes a fanzines e tal. Aí falei “caralho, não vou dar conta, não vou fazer”, mas depois acabei cedendo, conversamos e fechamos em quinze shows. Pra galera que ler essa parada, o show vai ser dia primeiro de dezembro em Salvador aqui na Bahia, mas tá acabando o ingresso, nego tem que se ligar, porque vai ser isso aí e tchau tchau.

Não conhece o B Negão & Os Seletores de Frequência? Fica a dica:


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