quinta-feira, 22 de março de 2012

Vale a pena navegar - O sudeste ainda é o porto?

Por Rafael Flores 
Maglore/ Foto: Lucas Dantas
Semana passada, o Grito Rock presenteou o público com um belo momento. Momento este que causou lágrimas em alguns e arrepios em outros. Era a despedida das duas bandas mais queridinhas do público de Vitória da Conquista. A dobradinha Maglore e Os Barcos, mais conhecidos como “Novíssimo Baianos” (apelido dado pelo jornalista Luciano Matos e que titulou a turnê que fizeram juntos em 2010) estão arrumando as malas. A conquistense Os Barcos, com uma mudança na formação, se prepara para iniciar uma aventura na capital baiana, enquanto a soteropolitana Maglore vai se despedir da Bahia e ocupar terras paulistanas.
As grandes capitais, principalmente as do sudeste, ainda são as sedes das cenas culturais brasileiras. Mesmo com esforços de tirar o foco desses eixos e descentralizar a produção no Brasil, o caminho das pessoas que buscam viver de sua arte ainda culmina em se mudar para São Paulo ou Rio de Janeiro, construir uma carreira, muitas vezes, distantes de seus lugares de origem. O que não faltam são exemplos de bandas nordestinas contemporâneas que migraram pro sudeste para aprimorar o som e ampliar o público. Só para ilustrar, temos Pitty e sua banda, a Vivendo do Ócio, a Cof Damu, Damm , a paraibana Zeferina Bomba e os pernambucanos  Nação Zumbi e China.

Os Barcos/ Foto: Thaís Pimenta
Permanecer afastado do eixo, talvez não seja a melhor opção em um país no qual as opções para se conectar com outras cidades são escassas e precárias. Estando nos grandes pólos, a circulação fica bem mais fácil. Teago, vocalista da Maglore, explica que a mudança para o sudeste não significa apenas estar mais próximo de um reconhecimento nacional imediato. Em seus três anos de existência a Maglore conseguiu reverberar em diferentes estados do país, principalmente por conta das redes sociais. “A gente sempre faz show em Belo Horizonte, no Rio, em São Paulo, lugares distante e de acesso complicado. É foda você estar inserido nesse circuito e continuar morando em Salvador, é muito caro”, diz Léo Brandão, tecladista e guitarrista da banda soteropolitana. “Acho que uma questão de logística também né, porque São Paulo é uma cidade central, a 4 horas de Curitiba, a 5 horas do Rio de Janeiro, a 7 horas de BH, que é a mesma distancia de Salvador pra cá, Florianópolis também” completa Léo Brandrão, guitarrista e tecladista.

Dimazz/Foto: Thaís Pimenta
Netto Fernandes, baterista d’Os Barcos e figurinha carimbada da história recente do rock conquistense, conta, com lágrimas nos olhos, o quão é difícil deixar Vitória da Conquista. “A gente sabe que nosso processo aqui foi lento e lá vai ser lento também. A gente pode até dar uma sorte e de um dia pro outro estourar, mas tamo indo e com o pé no chão sabendo que vamos ter que conquistar um público acostumado a outros sons, outras bandas, então vai rolar esse estranhamento da gente com o público e do público com a gente” diz. Marx Eduardo, responsável pelo vocal e baixo da banda, elogia o público conquistense e confessa que a saudade de casa já está batendo. Para ele o fato de Conquista ter aceitado muito bem a banda e isso ter reverberado pelo estado com um bom retorno nas redes sociais, chegou a hora de navegar “por outros ares e mares”. O nomadismo musical está chamando os Barcos para novas experiências. ”Precisamos conhecer outras redes, outras conexões que não sejam virtuais. Precisamos circular, precisamos de coragem. Ficamos muito tempo parados aqui, com esse comodismo incrível que a cidade nos proporciona e que nos prende, mas tá na hora de circular”. A mudança também está na estrutura da banda, os ex-integrantes Fernando Bernardino e Ivan da Mata dão lugar à Dimazz, novo guitarrista, o qual já passou por diferentes bandas do cenário alternativo de Salvador.

O cantor Marcelo Camelo em uma entrevista para a revista “Trip” afirma que o que possibilitou uma maior diferença entre os seus dois álbuns solo, foram os lugares onde foram gravados. Será que o ambiente influi na musicalidade dos novíssimos baianos? Teago diz que a vivência musical fora da sua cidade de origem é um dos lances que mais o fazem empolgar-se. “Primeiro é mais um lance de aproximação, os primeiros seis meses serão para conhecer, ‘experienciar’ essas coisas novas”, diz. O vocalista diz ainda que todas as mudanças, desde o início da banda, sejam externas ou internas, influenciam nas composições, deixam marcas. “Seria até cômodo se a gente ficasse em Salvador , pois de fato não está ruim pra gente ficar lá, mas eu acho que também é o lance de você não se acomodar naquilo que você já conquistou. E também a questão de você sair pra tentar coisas novas, fazer algo diferente. O lance de sair de casa é mais ou menos isso, eu acho que se ‘der na telha’ de nós irmos par o sul ano que vem, a gente passa 6 meses no sul, e aí a gente vai pra onde a cabeça da gente na hora apontar” completa Teago.



1 comentários:

  1. Lindezaaaa! parabéns a vcs pelo trabalho de responsa e esse carinho e cuidado constante que tiveram com agente! Como não me canso de dizer: Tamo junto meus querido!!! abração e até breve ^^

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