terça-feira, 6 de dezembro de 2011

“We are carnaval”?

Elis Regina - querelas do brasil by dOMi

Por Mariana Kaoos

Com menos de um mês para o verão chegar, as cidades da Bahia já estão fervendo, mas dessa vez, não só pelo clima. Dezembro é o momento em que começa-se a pensar nos planos do natal, réveillon e férias de verão. É quando, finalmente, sobra um dinheiro a mais para investir em roupas, festas e viagens, conhecer gente nova e, claro, estar de braços abertos para os cariocas, paulistas, “gringos” e diversas pessoas de tantas outras localidades que vem passar temporadas por aqui.

Segundo dados da Empresa de Turismo da Bahia, Bahiatursa, em parceria com a Secretaria de Turismo, estima-se que o estado receba em média 3,5 milhões de turistas do inicio de janeiro até o carnaval. Isso ocorre não só devido aos atrativos que cidades como Salvador, Porto Seguro e Lençóis oferecem, mas também ao estereotipo que o imaginário coletivo criou acerca da identidade da Bahia, bem como do restante do Brasil, como o país do verão, samba, feijoada e futebol.
Se por um lado isso atrai benefícios para o comércio de forma geral, duplicando demandas de consumo e aumentando o lucro de restaurantes, bares, lojas e cinemas, por outro, assumir o ano inteiro a identidade de estado da alegria, da cerveja e da mulata é restringir detalhes e contradições que a Bahia possui, como, por exemplo, a implosão do crack nas ruas de Salvador ou o frio que chega a 10° em determinadas épocas do ano em Vitória da Conquista. Para o sociólogo e professor do curso de Comunicação Social da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, José Caetano, a identidade de um país se dá através de um processo sócio histórico que ocorre desde os primórdios da sua colonização. A grande questão é que essas múltiplas identidades, muitas vezes deturpadas, são alimentadas pelos próprios brasileiros. “Quando fui morar no Rio de Janeiro, há algum tempo, as pessoas não acreditavam que eu era da Bahia porque eu sou branco, ate então era evangélico, hiperativo e não comia feijoada. Então eu fugia do padrão do estereótipo criado e consumido pelo imaginário coletivo de que todo baiano é negro, do candomblé, preguiçoso e come feijoada. Essas características, separadas ou não, fazem parte da constituição da identidade baiana, como também de outros lugares do Brasil, mas restringir toda uma cultura a apenas isso, é excluir tantas outras possíveis formas de viver e se identificar com outras visões que a Bahia possui”. Comenta.

Nas universidades, vários teóricos seguem a linha dos estudos culturais e identidade fazendo com que o significado de alguns termos se torne de fácil entendimento, mas na prática, compreender o que de fato faz de um país uma nação é um pouco mais complicado. Para a professora do curso de comunicação social da Uesb, Adriana Camargo, que segue a linha dos estudos de Stuart Hall, nós estamos inseridos no contexto de sujeito sociológico junto com o sujeito pós-moderno, que se retroalimenta o tempo inteiro. Nós enquanto sujeitos com o meio, com os outros e conosco mesmos. Definir a identidade de um país seria quase o mesmo que definir um individuo, segundo ela “a identidade do Brasil é algo tão particular quanto o sujeito. Acredito que a priori, essa identidade nacional foi construída a partir de olhos estrangeiros, foi uma forma de Portugal, no inicio da nossa colonização, vender essa imagem de felicidade e verão para outros olhos. É até meio freak, mas você observa imagens fotográficas de pessoas vestidas com indumentárias européias dentro desse calor infernal que era aqui. Se torna um paradoxo. Apesar dessa identidade estar inserida dentro de uma sociedade e em diálogo principalmente por conta da globalização com um todo, existem especificidades que pertence (sic) a cada localidade. Então, mesmo que exista um diálogo com o global, essa identidade do Brasil tem muito de local também, na verdade é uma interação dessas duas forças”.

Enquanto muitos tomam para si essa identidade de nação e sujeito do verão, consumindo esses produtos, derretendo nas areias do litoral e frequentando todas as possíveis festas de samba, há outro lado esse mesmo verão dos que soam debaixo de uniformes de trabalho para conseguir sua sobrevivência diária e sustentar toda essa identidade. É muito bonito e até mesmo nacionalista reconhecer a alegria, o carnaval e a beleza do povo brasileiro, entretanto, há também de se exaltar o frio, os cultos evangélicos, a dança do carimbó, as vinícolas nacionais e tantas outras especificidades que traduzem o Brasil. “We are carnaval” assim como outras infinidades de coisas, frívolas ou não, resta aos brasileiros se reconhecerem como sujeitos identitários também de outras estações e saber a infinidade de características e riquezas que possuem para além do verão.

1 comentários:

  1. Para isso, jovem esperta, é preciso que os brasileiros sejam cutucados com arte, educação, conhecimento de sua própria cultura e de outras culturas. Quando?
    Aninha Franco, Salvador.

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